viernes, 26 de marzo de 2010

Escudo


2 comentarios:

Revistacidadesol dijo...

Oi, Fabrício.

Sei que se trata aqui de uma ironia com o escudo do país, mas não pude deixar de me comover ao ver Carmen Miranda, mito brasileiro, estampado aí. Fiz um artigo sobre ela, ano passado foi o seu centenário, dê uma olhada:

http://www.thedrillpress.com/broca/2009-06-01/broca-2009-06-01-miranda-lsanto-01.shtml

No mais, gostaria que me passasse o linque do seu artigo sobre a Cantora Careca. Não encontrei nas postagens anteriores, onde ele está?

Abs do Lúcio Jr.

Fabricio Estrada dijo...

Signos não verbais

Por que Wittgenstein teria se interessado pelo canto e dança de Carmen Miranda, logo ele, alguém de gostos tão nórdicos que passava as férias em fiordes da Noruega? Wittgenstein, segundo Margutti, via Carmen apenas como um entretenimento, uma evasão, uma forma de “tomar uma ducha” depois de refletir sobre problemas lógicos. Ele viu os filmes onde ela atuou na época da Segunda Grande Guerra, como uma espécie de clareira de alegria enquanto o planeta ardia em chamas.

Carmen nunca cantou em alemão, língua materna de Wittgenstein, mas entre eles havia o canal comunicante que era a língua inglesa. Carmen investia muitíssimo na comunicação através dos signos, mais do que no discurso. Por isso, supomos, a pequena notável fascinou Wittgenstein. Ela era incrivelmente rica em comunicação não-verbal: sua roupa onde predominavam as cores primárias (amarelo, vermelho, azul) preparava o clima para uma linguagem primitiva e tudo nela mostrava mais do que era dito: os gestos, a roupa, o movimento dos olhos, boca e membros.

Tomemos um exemplo: The Lady in the Tutti Frutti Hat, uma de suas canções, traz a seguinte imagem: “Eu me pergunto por que todos olham para mim e depois falam sobre árvore de natal/Espero que seja porque todo mundo está feliz em ver/uma senhora de fruteira na cabeça”. A persona de Carmen, barroca, excessiva, complexa, não se enxerga excêntrica, não se identifica com o discurso dos outros a seu respeito.

A esta altura surge uma questão interessante do ponto da filosofia da linguagem: o discurso dos outros a respeito de nós é produzido externamente e nos afeta profundamente; em circunstâncias tais como a narrada na música citada, o mais difícil é perceber de que forma estamos sendo percebidos, além de suportar a dor que pode nos causar a lacuna entre o discurso que produzimos internamente e o discurso alheio a nosso respeito. A posição de Wittgenstein a respeito do seu meio era radical: ele vivia associado à universidade, mas dizia prescindir de um ambiente intelectual, pois afirmava que “produzia seu próprio oxigênio”, segundo Ray Monk escreveu em sua biografia O Dever do Gênio. O filósofo afirma, portanto, que produzia e se satisfazia com seu próprio discurso sobre si mesmo, dispensando o convívio num ambiente intelectual, o que incluiria apoios e amizades.